segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Isso não é uma história de amor



E nem eu ousaria dizer que é. É uma história de amizade, sexo e cumplicidade. Uma história de segredos e mentiras ditas a outrem. É um complô. Duas pessoas que decidiram compartilhar seus lençóis, mas não suas vidas. Duas pessoas de vidas completamente opostas, rumos incertos e em mudança constante. A constância das mudanças é a única garantia que ambas tem. Ele tem outra. Ela tem outra vida pra cuidar. Ele mente pra outra pra se encontrar com ela. Ela mente pra mãe pra se encontrar com ele. Eles não se separam. Até quando estão distantes, estão juntos. Eles não ficam juntos, até quando estão juntos, estão separados. Suas vidas não se encaixam. Seus corpos, seus gostos, suas manias, sim. Tudo se une em uma completa sintonia. Mas a vida segue rumos diferentes. Ele escolheu ser do mundo. Ela escolheu doar seu mundo pra alguém. Ele espera algo que não sabe o que é. Ela espera algo que não sabe a dimensão do que vai passar a ser. Então eles seguem, juntos e separados, amantes e amigos, cúmplices e o que mais vir a ser. Porque a vida é curta demais pra esperar a hora certa, então vamos seguindo feito errantes, escondidos, nos 
amando madrugada a fora. Um dia acaba. Ou já acabou. Quem sabe?

Eu escolhi ficar



Eles aparecem as vezes pra me visitar. Sei que o que eles procuram na verdade é comida, mas gosto de relações assim. O interesse existe, mas a honestidade também. E também tem a lealdade. Eles sempre vem. Eu sei que vão vir. Podem demorar uma semana ou duas, um mês até, mas eles sempre retornam. As vezes vem apenas um ou dois, hoje vieram muitos. Cada um deles possui uma característica diferente. Um é mais audacioso, vem buscar o pedaço de pão e fica me olhando, como se soubesse que eu não vou machucá-lo. Outros gostam de pegar e ficar comendo mais de longe, evitando qualquer possibilidade de contato físico comigo. As fêmeas, carregando os filhotes nas costas, nem ousam chegar perto. Uma hoje até tentou. Deixou os dois filhotes em cima do galho da árvore e pensou em vir pegar um pedaço de pão, mas desistiu ao ver que eu estava perto demais. Eu gosto deles pela simplicidade que carregam no olhar, pela liberdade de ir e vir, sem se prender a um local ou a alguém. Eu gostaria de ser assim, pegar apenas aquilo que eu quero e ficar apenas o tempo necessário pra me manter satisfeita. Ir embora sem rancor ou peso na consciência. Ir porque já está tarde, já é escuro e porque a vida segue seu rumo, não há motivos pra querer ficar. Mas as vezes é tão bom, que você quer ficar uma hora ou duas a mais do que o combinado. É tão seguro, que você deseja nunca perder. Mas ao mesmo tempo é tudo tão vulnerável, que quanto mais você quer ficar, mais te pedem pra ir. Seja com palavras ou com ações. O importante é se permitir viver. Mesmo uma vida dividida com outra pessoa, ainda assim é uma vida boa e agradável. Não há porquê dizer não, há? Na verdade há... Eu não posso ir mais. Eu não quero ir mais. Essa minha vontade de me prender a alguém está me torturando. Tenho uma vida crescendo em mim e nada é tão valioso. Não posso me largar no mundo atrás de alguém que divide sua cama com outro alguém. Sei que sempre haverá um espaço pra mim naquele colchão. Sei que sempre existirão momentos felizes naquele apartamento. Por mais que ela diga que não, ele sempre me diz sim. Mas não quero um meio sim. Na verdade, não quero sim nenhum. Não quero nenhum motivo pra sentir vontade de ir embora daqui. Sou como a fêmea que vi hoje. Carrego meus filhotes nas costas e não ousarei deixá-los pra trás. Nem mesmo por um segundo, muito menos por algo tão arriscado assim. Eu ficarei aqui e cuidarei de meus filhotes, como qualquer boa mãe que ame seus filhos faria. Quem quiser um pouco de mim, que venha buscar.

domingo, 2 de setembro de 2012

Eu quero você!




Hoje perdi alguém, alguém que fez parte da minha vida, alguém que me fez rir, alguém que me fez raiva, um amigo. Não quero sentir isso de novo. Não quero ficar longe de quem me faz bem. Não quero ficar longe de você. Eu te amo. Sim, eu amo. Eu quero você. Quero que você vá me buscar na parada de ônibus outra vez. Quero ver você vindo de longe, com seu andado desengonçado, uma timidez escondida por trás de um sorriso safado. Quero entrar pela porta do seu apartamento e ver que ele tá mais sujo do que da última vez que eu fui, que ele precisa de mim, assim como você também precisa. Quero ajeitar o colchão no chão, colocar um lençol limpo, colocar os travesseiros e mais três lençóis, dois pra mim e um pra você. Quero que você escolha um filme, que a gente deite e finja que vai assistir. Quero começar a te beijar antes mesmo da apresentação do filme começar, quero começar a fazer amor antes mesmo de que todos os personagens sejam apresentados. Quero parar de fazer amor... bem, melhor seria não parar de fazer amor nunca. Quero seu corpo sobre o meu, o meu corpo sobre o teu. Quero seu cheiro, seu suor, seus beijos. Quero ficar de olhos abertos, olhando seu rosto, aquela expressão de prazer que você faz toda vez que eu vou mais forte e mais rápido. Quero ficar te olhando até você gozar. Quero deitar do seu lado, olhar pra você, sorrir e pedir mais. Quero terminar a segunda vez e ir preparar alguma coisa com as poucas opções de comida que tem na sua casa. Quero procurar uma colher limpa e não achar. Quero ter que fazer uma verdadeira caça ao tesouro pra poder preparar algo pra você, enquanto você recomeça o filme ou procura uma música boa pra ouvir. Quero ficar cozinhando e olhando pra você, vendo que você tá olhando pra mim, usando aquela blusa do seu time horroroso, que mal cobre a minha bunda e você adora. Quero preparar aquele cuzcuz com margarina (a única coisa que se tem pra preparar aí), aquele suco com os limões que sobraram da última farra que você fez e o meu leite que você (dessa vez) lembrou de comprar. Quero sentar e comer. Você não vai reclamar de nada, porque eu fiz tudo do jeito que você gosta, não vai ser mais como da primeira vez que eu errei o ponto do cuzcuz. Agora eu te conheço bem o suficiente pra saber como agradar seu estômago. De barriga cheia, deitaremos e dormiremos juntinhos. Quer dizer, você vai dormir, eu vou ficar esperando você começar a ter espasmos pra ter certeza que tá dormindo, ou roncar, dependendo do quão cansado eu te deixei depois do sexo. Quero ficar te olhando e te alisando. Quero te acordar as vezes com um beijo. Então vou deitar e dormir. Quero acordar cedo com o sol no rosto, escovar os dentes e ajeitar alguma coisa que tá muito bagunçada na casa. Quero te acordar com aquele sexo oral matinal que eu sempre faço. Quero ir na rua comprar pão e preparar um café da manhã especial pra você, demorar tanto tempo que chega a ser a hora do almoço quando fica pronto. É só uma tática pra te deixar em casa mais tempo comigo, pra você não ter que ir almoçar na sua tia. Então, cheios demais pra conseguir fazer qualquer coisa, vamos ficar deitados, ouvindo alguma música muito boa que eu deveria saber quem era o cantor, mas eu não sei por ser muito burra, rindo de alguma coisa ou brigando com você por você não valorizar as coisas que faço por você. Quero te mostrar que eu te amo de verdade e que estou disposta a fazer tudo pra ficar com você. Quero te mostrar que eu adoraria que você não sentisse falta de ficar com outra pessoa, que eu fosse o bastante pra você. Quero ir embora e ter a certeza de que você vai sentir minha falta. Quero voltar e ter a certeza que você esperou tão ansiosamente por esse momento quanto eu. Quero acordar e parar de me iludir tanto, pois sei que isso nunca vai acontecer...