domingo, 11 de março de 2012

Queda livre



Eu fechei os olhos para o mundo real e me joguei num poço de sonhos, do qual ouvi dizer que era ali que toda a felicidade do mundo estava, que poderia ser minha se eu me entregasse por inteiro. E eu me entreguei. Então comecei a cair. Era tudo tão mágico, havia outras pessoas no caminho, quis parar, quis tê-las por perto, mas não conseguia. Elas passavam rápido demais, nem sequer pude mostrar o mundo de sonhos que nos esperava. Nem sequer pude convencê-las a seguir viagem comigo. Elas estavam seguras, em lugares calmos, não havia grandes riscos por ali. Eram tolas. Se deixaram levar por algo estável e deixaram passar toda a magia que um mundo de sonhos e aventuras poderia oferecer. 
E então o tempo passou. Ninguém aparecia para vir comigo. Mas porquê não? Ninguém seria capaz de arriscar tudo por algo mágico? Apenas eu teria sido ousada o suficiente para desejar mais e ir atrás sem pensar em nada? Certa vez um alguém me parou, era um lindo e calmo rapaz. Pude ver seu mundo, onde tudo era muito correto, tudo muito igual. Poderia ser bom, mas eu não quis arriscar. Eu tinha um mundo perfeito me esperando, não pude ficar. Continuei caindo. 
Depois de muito cair e nada encontrar, passei por um mundo bonito. Não era perfeito, não tinha coisas magníficas, mas era especial. E eu quis ficar ali. Então vi uma linda mulher, ela me contou sobre seu mundo, me mostrou o quanto era feliz ali. Então pedi ajuda, disse que gostaria de ficar um pouco mais. Ela concordou. Quando estendi a mão, ela não me segurou, por algum motivo, ela não quis me segurar. 
Havia um outro alguém, ele vivia no mesmo mundo que o dela. Eles eram tão parecidos, era como se carregassem a mesma felicidade. Então estendi a mão para ele e ele segurou. Eu finalmente conseguiria ficar bem, encontraria algo bom para mim, que me fizesse esquecer de todos os sonhos que um dia esperei encontrar, mas que nunca apareceram. E então confiei, me senti segura, me senti feliz. Sem perceber, pouco tempo depois, me senti cair outra vez; ele havia me soltado e nem sequer avisara. Tentei convencê-lo a me segurar, mas ele não quis. Não havia mais o que fazer. Eu continuaria ali, caindo.
Eis que me surge um outro alguém, um alguém cheio de coragem, que havia se aventurado e se jogado no mesmo poço que eu, em busca dos mesmos sonhos. E então fiquei feliz por ter companhia. Segurei sua mão sem lhe perguntar nada. Eu estava tão feliz, que não pude perceber que ele vinha do mundo que eu tanto quis ficar, que havia algo que o segurava. Ele não tinha se jogado, apenas se aventurava um pouco, mas suas raízes estavam ali, onde eu queria estar. Fiquei sozinha outra vez. 
Pouco antes daquele mundo sumir da minha vista, vi um outro rapaz. Quieto, mas carregava maravilhas no olhar. Ele era especial. Me chamou para ficar. Conversamos um pouco, parecia que nos conhecíamos a anos. Eu teria enfim o mundo que sempre sonhei em ter. Ele foi tão carinhoso, tão atencioso, que finalmente encontrei nele todas as coisas que eu sempre desejei, sem grandes promessas, era apenas algo bom o qual quis aproveitar o máximo que pudesse. Enquanto vivia aquele momento, fechei os olhos para todo o resto. Eu não pretendia ficar, não mais. Eu queria continuar caindo, mas estava gostando de estar ali. Certo dia, ele me levou até o poço e me disse que eu não poderia mais ficar, que apesar de todo o carinho que existia entre nós, este não era o suficiente para que eu ficasse. Ele não poderia me deixar ali, ocupando o lugar que deveria ser de outra. Então sorri, fechei os olhos e me joguei. 
Estou caindo, ainda estou caindo. Olho para tudo o que passei naquele mundo e a única coisa que desejo é nunca mais voltar lá. Não quero mais cair. Quero subir, mas não consigo encontrar um modo. A sensação de cair fica cada vez pior, as vezes nem sequer consigo respirar. Preciso de ajuda, mas ninguém quer ajudar. Como vou sair daqui? Me joguei neste poço, acreditei que este era o único modo de ser feliz e agora não consigo mais me salvar. Não posso aceitar a queda, não posso fechar os olhos e fingir que a sensação é boa, que sentir cada vez mais o ambiente ficar úmido me conforta. Não conforta. Me sinto cada vez mais sozinha, quanto mais eu caio, menos sinto o calor das pessoas. Ouço suas vozes de longe, sussurrando. 
Ninguém vai me ajudar, já faz tanto tempo que estou caindo e ninguém ajudou. A verdade é que as pessoas não se arriscam a viver com pessoas que se jogaram no poço em busca da felicidade. Elas temem ser contagiadas, serem envenenadas. Isso afastaria as outras pessoas delas, do mesmo modo que afastou elas de mim. Eu preciso sair sozinha, eu preciso me prender a algo, algo que haverá de surgir durante o caminho, algo que não seja alguém. Preciso ir embora. Não tem como fugir, não vou fugir. Preciso fechar os olhos e pensar. Vou sonhar um pouco. Cair é cansativo e dá medo. Você não sabe se vai parar, quando vai parar. E o pior é que não para. Você só cai e cai e cai... 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ah, vão a merda com o dia da mulher!



Sumam daqui com toda essa hipocrisia! Que dia da mulher, que nada. Vocês pouco se importam com o que somos ou o que pensamos. Vocês sequer sabem como funcionamos, não têm sequer a menor ideia. Ficam ai nos comparando a seres divinos, mas não sabem o quão pesado é o fardo de ter que aturar, todos os meses, menstruações, cólicas e TPMs, só para ter o direito de carregar por nove meses um ser que, ao nascer, só se lembrará de nos agradecer duas vezes ao ano. Somos mães e mulheres todos os dias, o ano inteiro. 
Hoje vocês lembram de nós, no segundo domingo de maio também. Mas vocês esquecerão de toda essa falsidade no dia seguinte. Amanhã voltarão a xingar a mulher no volante e nos mandarão dirigir fogões. Reclamarão ao chegar em casa e o almoço não estar pronto... A verdade é que não existe nada de mágico no dia do mulher. É algo completamente inútil e machista. E é ridículo que as mulheres, nos dias de hoje, aceitem as migalhas de serem lembradas uma vez ao ano e se sintam especiais com isso. Temos todos os defeitos todos os dias do ano, mas por apenas um dia nos tornamos falsos anjos, seres divinos, virgens marias, representantes de Deus na Terra. 
Esse dia é um como outro qualquer, somos hoje como somos todos os dias. Sem poderes divinos, sem virgens marias, sem anjos. Somos mulheres, somos seres pensantes igual a qualquer humano. Não existe nada de misterioso na mulher, nada de divino. Somos responsáveis por gerar a vida igual aos homens, apenas carregamos o fardo na barriga e somos responsáveis por alimentá-los por um tempo. O que há de misterioso nisso? O que tem de divino? Nada! Porque se fossemos tudo o que dizem de nós hoje, vocês homens lembrariam disso todos os dias.
A única função do dia da mulher é nos lembrar de nossa luta diária contra o machismo, de nossas tentativas de vencer essa sociedade preconceituosa e garantir o nosso direito de igualdade. Não há nada pra se comemorar, nada!

terça-feira, 6 de março de 2012

Nós três




Você não tinha o direito de invadir meus sonhos, eles são meus, ora! Não tinha o direito de me perturbar no único momento que consigo não pensar em você. Você não podia ter sido tão carinhoso, tão atencioso, não podia! Isso não é real, não é real. A gente sabe disso... Mas porquê me atormentar tanto assim? Porque entrar na minha vida se nunca quis ficar? Eu não te pedi pra aparecer, não pedi. Foi você, foi culpa sua. Eu nunca quis você, eu queria ela. E você sabia disso. Você veio com toda aquele ar de disponibilidade, aquele olhar de amor possível e aquele sorriso, aquele sorriso que me lembrava dela. 
Eu não pude evitar. Ela me falava sobre você, sobre o quão eram parecidos e o quão menos "medo" você me daria. Mas eu não tinha medo dela, não tinha medo do que poderia vir a ser ao lado dela. Mas ela me convenceu de que você era o melhor, pra quê? É tudo culpa dela! Ela transformou tudo que eu sentia por ela em amizade e o nada que eu sentia por você em tudo.  E eu aceitei. Por que parecia tão possível, que não haveria porquê não aceitar. 
Vocês são iguais. Almas, mentes, gestos, tudo. Até no físico tem coisas em comum. Mas ela não me perturba mais. Ela não me dá medo, nem sensações estranhas. Eu não sinto mais vontade de estar perto dela. Não existe mais aquela mágica sintonia de duas mulheres que são iguais, mas que vivem em fases diferentes. Não existe mais aquele "apaixonar por si mesma", eu por aquilo que um dia seria, ela por aquilo que um dia foi. 
A grande verdade é que nós três somos iguais. E que não existe nós três. Existe você e ela. E longe, muito longe, atrás das telas de computador, existe eu. Existem meus sentimentos e meu turbilhão de emoções confusas. Por você, não mais por ela... E no final das contas, restarei apenas eu. Sem você, sem ela, sem ninguém.

domingo, 4 de março de 2012

Evolua!



A verdade é que as coisas não saem da minha cabeça. Elas simplesmente ficam lá, como planos, mas nunca são realizados. Talvez eu tenha idealizado coisas impossíveis de serem realizadas, então eu fico aqui, presa a pequenas coisas, sem evoluir. Não existe uma razão justificável para continuar aqui, parada, mas eu continuo. Eu preciso desapegar de muita coisa que me prende nesse nível de vida, preciso evoluir. 
Preciso aprender mais, crescer mais, porque eu quero ir mais longe. Não existem algo ou alguém que virá com a solução para os meus problemas nas mãos. Eu terei de achar. E está escondido, muito escondido, mas em um lugar onde apenas eu posso ter acesso: eu mesma. Tudo o que eu preciso hoje está aqui, dentro do meu coração, congelado. Uma força de vontade, uma motivação, um desejo de ir além. Eu quero ir além, quem não quer? Mas eu estou presa a isso. Preciso me livrar dessas coisas o quanto antes. 
Não são pessoas, não que eu saiba. Não acredito que meus problemas estejam em outras pessoas. As pessoas só te influenciam se você deixar, se você permite que elas o façam. Então o problema sempre estará em você. Ninguém é capaz de destruir sua vida. Ninguém. As pessoas podem usar seus atos contra você, mas se você fizer tudo certo, nada dará errado (óbvio, não?). O difícil é não errar, é saber a hora de parar, é saber a hora de continuar e a hora de começar. 
O problema é que todas essas solução estão prontas, esperando que deixemos de nos importar com as bobagens e enxergaremos as coisas mais simples, como elas realmente são. Nada é complicado se você enxergar como algo simples, passível de solução. A vida tem solução, o mundo tem solução, existe resposta para tudo no mundo, mas você está tão preocupado em usar seu tempo com outras coisas, que não consegue ver. Você nunca verá se não parar pra ver.