sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Conversa de Avó




Eu sempre fui muito apegada a minha avó, apesar de ela ser a segunda mulher do meu avô e não ser minha avó de verdade, desde que nasci ele já era casado com ela, então a considero como tal. Aprendi com ela a maior das lições que poderia aprender na minha vida: você NUNCA vai ganhar nada. Não importa o quão te encham de presentes, nada será seu de verdade, tudo será conquistado através do seu esforço. Seja seu esforço físico ou apenas o mental, onde você se esforça sempre em ser uma pessoa boa e em fazer o bem.
Como toda criança, eu adorava ir pedir dinheiro a minha avó (ou ao meu avô, mas arrancar algo dele era sempre mais difícil). Sempre que a pedia algo, ela pedia para que eu fizesse algo antes, depois me daria o dinheiro. Eram coisas diversas que variavam entre lavar suas chinelas, fazer o café e iam até coisas como depilar as pernas dela. Dependendo da quantidade de dinheiro que eu desejasse, era a dificuldade da tarefa que eu deveria fazer.
Uma dos maiores desgostos que tive em relação a família foi quando ela parou de falar comigo. Foi um misto de diversas coisas desde briga em festa de aniversário de família, a boatos sobre minha sexualidade. Enfim, acabei a decepcionando e ela deixou de falar comigo. Não que ela tenha deixado realmente de falar, mas ela mudou completamente o modo como me tratava e isso me magoou muito. 
Sempre achei importante manter esse vínculo com a minha avó, ela era a versão boazinha da minha mãe. Ela era tudo que uma mãe é, só que sem brigar tanto. Talvez seja porque, na verdade, há sempre coisas que a gente tenta esconder da família, mas a mãe acaba descobrindo e avó não. Nunca achei que conseguiria ter certos tipos de conversas com a minha avó, como falar sobre minha orientação sexual ou sobre minha vida sexual. Acho que as avós são seres divinos, elas já viveram demais e já tiveram decepções demais com nossos pais, não há porque ela se decepcionar com os netos também.
Acho que envelhecer já é difícil o bastante, não há porque trazer mais sofrimentos aos nossos avós. Tento ser sempre o melhor para ela, mostro sempre o meu melhor pra ela. Acho que função de avó é sentir orgulho dos netos, já que função de filho é decepcionar os pais e a gente sempre espera que nossos pais tenham feito isso da maneira mais honrosa possível, então cabe a nós a parte do orgulho, de ser o lado bom de ter sofrido tanto criando e educando nossos pais, pelo menos saímos nós, as "recompensas".
Algo que acho muito importante e aconselho a todos que o façam: ouçam seus avós. Apesar de eles terem vivido em uma época completamente diferente da atual, existem coisas que nunca mudam: como a falsidade e a honestidade. Quando se vive muito, se aprende a reconhecer o que há de bom e o que há de ruim nas pessoas logo de cara, não que isso seja certo e que se deva deixar de falar com alguém só porque a sua intuição mandou. É importante viver todo tipo de experiência, mas existem as experiências dos outros que podemos tomar como nossas e evoluirmos sem ter que passar por tal situação. Saber ouvir, é o bastante. 

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